(Em outras palavras: o mundo anda armado demais.)
É claro que o avanço da tecnologia trouxe incontáveis benefícios para a
vida das pessoas. Mas acho que também trouxe um gosto de solidão. A moda
é marcar aquele churrasquinho no domingo ou um happy hour no meio da
semana pelos "eventos" do Facebook. Acabou a ligação e o convite
individual, pois ninguém quer perder tempo. Grandes notícias são dadas
através de redes sociais, bem como fotos de viagens são postadas a todo
instante. A pergunta que fica: você aproveita mesmo sua vida? Ou vive
uma vida para mostrar para os outros?
Constantemente observo casais em restaurantes e bares em sintonias
opostas. Parece que não querem estar ali, um com o outro, um tentando
achar detalhes nunca antes vistos no seu par. Nas mãos, um iPhone, um
Blackberry. Na cabeça, qualquer outra coisa, menos a pessoa que está ali
na frente. Desrespeito? Desamor? Não sei, mas é triste ver que não
existe mais olho no olho, tentativas de descobertas, pois a gente sempre
tem o que descobrir da outra pessoa, sempre.
Paralelamente a esse curioso processo, surge a carência. Eu sou carente,
preciso de atenção, no fundo me sinto perdido, sozinho e quero que você
me curta, me ache legal, me aceite, me insira no seu grupo de amigos,
me coloque na sua vida, não me esqueça, me ame e diga para os outros
como sou bacanudo. O ser humano está dia a dia mais carente, mais
reativo, mais desconectado de si mesmo. Sim, é preciso estar conectado
consigo para se conectar com os outros de uma forma positiva. Uma
palavra entendida de uma forma errada gera um conflito sem fim,
interpretação de texto é um luxo que nem todo mundo possui. As pessoas
andam armadas, à espera de qualquer passo em falso do outro para atacar.
E atacam feito bichos sedentos, famintos de sangue. O mais interessante
é que nem sempre o outro realmente te ofendeu. Mas se você se sentiu
ofendido, se você entendeu errado, se você não prestou direito atenção é
claro que vai partir para cima do objeto da sua ira. Isso gera desgaste
de relações, gera desamor, gera uma angústia, gera solidão e vira uma
bola de neve. Você segue sendo carente e sozinho. Até o final da vida.
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