domingo, maio 05, 2013

Por Guilherme Bogo

É como se fosse a partir daquele segundo. Como se fosse somente a noite, todos os dias. É como se me visitasse, sem eu querer sua visita. Chega em segundos. Acompanhado de algo, o escuro da noite, o silêncio da casa mesclado ao som da televisão na sala de estar, ou da chuva, leve, junto do barulho dos pratos trincando na cozinha onde todos jantam. 
Tenho minhas armas, fecho minha porta, adentro minha coberta e coloco meus fones de ouvido. Mas, é como se as armas viessem contra mim. Meu quarto fechado se torna um abismo, minha coberta cordas, e minha música uma tortura. 
Seja quem for ou o que vem, sabe o que quer, e também muito bem o que faz. Vou deitando a cabeça sobre meus braços, as lágrimas são inevitáveis. A dor começa lá no mais profundo do meu peito e vai queimando até o leve toque de piscar dos meus olhos. Como se fosse surrado, sem chances de levantar, mudo, surdo e cego, e que a cada murro, fosse me destruindo aos poucos. Bom se fossem murros físicos, tocáveis, estes a cura é mais fácil, mas não, são pensamentos, como se fossem palavras, que jogam em minha cara tudo o que sinto, tudo o que sou. Em minutos, perco minhas forças, sou derrotado, escravo, servo, humilhado.
Ao final, o som da chuva vai voltando aos meus ouvidos, dos carros, da televisão, as vozes. Abro os olhos, a música vai se encerrando. Logo começo a mexer as mãos, as pernas, sento, levanto, respiro fundo, e não tem mais nada ali, mais ninguém. Se foi embora, sem ao menos dizer um até amanhã.

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