Um garoto adolescente, excluído do
colégio e sem muitos amigos, se apaixona perdidamente pela garota mais
legal que ele conhecera até ali. Ela, no entanto, namora um garoto mais
velho e bem babaca, e não liga muito para nosso protagonista. Ele vai
até seu confessor, uma das únicas pessoas com quem tem intimidade para
fazer esse tipo de pergunta, seu professor de literatura.
E diz: Por que algumas pessoas se apaixonam pelas pessoas erradas? Ao
que o professor responde: Charlie, nós aceitamos o amor que achamos que
merecemos.
Quem viu uma das pequenas pérolas do
cinema do ano passado, As Vantagens de Ser Invisível, reconheceu o
diálogo acima na cena entre Logan Lerman e Paul Rudd. É uma das frases
que valem o filme (e o livro no qual ele foi inspirado). Aqueles
momentos em que você para e pensa: não é que é assim mesmo?
Quantas vezes você já não saiu de um
namoro que, seis meses depois, soava deslocado, fora de sentido? Como eu
pude me apaixonar por esse cara? Jura que eu passei tanto tempo com uma
mulher assim? Pois é, passou. Às vezes foi por conformismo mesmo. Por
não conseguir olhar para fora de si e imaginar novas aventuras que
valessem a pena, por fechar uma janela para o resto do mundo por
preguiça (ou medo, muito medo) de ter que se esforçar mais do que o
confortável para buscar a felicidade em outra pessoa.
Mas às vezes o problema está mais a
fundo. Porque medo a gente reconhece e, munido de uma boa lanterna
contra o escuro e o desconhecido, a gente eventualmente enfrenta. Mas
auto-estima é um problema daqueles que cola e não desgruda mais. Que
está tão colado, tão fundo, que a gente nem percebe que a maior parte
das nossas ações é decidida não apenas por nosso poder de escolha, mas
pela imagem que fazemos de nós mesmos. Matricular-se na academia, voltar
a estudar, mudar de emprego estão sempre condicionados ao “eu me acho
capaz disso?”.
E no amor não é diferente. Eu me acho
capaz de amar mais do que isso? De viver um amor de verdade,
arrebatador, gigantesco, fundo e completo? É o famoso “Ela conseguia
coisa melhor” que um amigo fala pro outro quando conhece o novo namorado
da fulana. Ela até poderia conseguir alguém que a tratasse melhor, que a
amasse mais, que fizesse a abraçasse bem forte ao invés de virar pro
lado na hora de dormir, que a respeitasse mais, que, quem sabe, vai
saber, até a admirasse. Que ficasse sorrindo de bobeira na hora em que
ela trocasse de roupa. Que repetisse, de vez em quando só pra lembrar,
que ela é a mulher mais incrível que ele já conheceu na vida. Mas nós
aceitamos o amor que achamos que merecemos. E quem acha que merece tudo
isso, né? Alguém mais feliz.
Por Vana Medeiros
Um comentário:
Nossa, que texto lindo! Diz tanto sobre mim... super-me-identifiquei.
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