segunda-feira, abril 29, 2013

A Dor e o Sabor de Não Se Ter

 
Por André Lenz

 

E quando menos me dou conta, olho no relógio e vejo que são quase sete da manhã. Abro a cortina e confirmo que o dia já raiou, e eu apenas não percebi. Meus pensamentos ficaram envoltos em uma mistura frenética de sonhos e pesadelos que deixam-me a mercê dos mais íntimos anseios e desejos reprimidos por uma vida cicatrizante, mas intensa em seus mínimos detalhes, em quase que uma descrição de um livro de Alvarez de Azevedo. Quem disse que seria fácil? Acordar já é estonteantemente difícil e rouba quase todas minhas energias... pensar... lembrar... a dor de ter e não ter ou apenas a dor de esperar.

Por muito tempo andei sem rumo, batendo de porta em porta procurando e não encontrando. Janelas se abriam, portinholas rangiam suas dobradiças outrora cansadas em últimos suspiros, em desespero, e depois de caminhar por anos descobri estar apenas batendo nas portas erradas. Foi então que meu coração dilacerou e chorou não um choro de lágrimas, mas um choro de aperto, no fundo do peito, por ter esperado tanto e procurado tanto por algo que talvez estivesse ali, do lado.

Olhando de longe só consigo ver um vulto, minhas vistas cansadas não me permitem enxergar ao longe e isso me prejudica grandemente, pois não sei pra onde olhas, por quem suspiras, por quem seu coração bate com força quase explodindo em paixão daquelas que até doem.

Faça-me rir, faça-me chorar.Surpreenda-me e escreva bem grande o quanto me deseja ao seu lado e não na sua frente, porque de mãos dadas somos mais fortes, somos gigantes.

Não tenha medo, pois você é meu porto seguro. O medo está comigo e você precisa curar as feridas e passar sua mão sobre as cicatrizes e mesmo assim, não ir embora. Precisa ficar aqui, pertinho do meu corpo porque está muito frio e o vento que vem da janela deixa-me todo arrepiado. Não quero ter você longe, quero você por perto. Não me machuque mais, meu amor! Pois minhas forças escoam pela rua e me sinto só.

Sorria para mim e me faça rir. Jogue um travesseiro na minha cara e depois me coloque em seus braços e me aperte até meu coração quase parar, por você, por mim, por nós dois. Pare de se esconder atrás de sua muralha e tire os óculos que não a fazem ver a verdade sobre seus olhos, que a enganam e a deixam confusa e por favor, feche os olhos.

A cada minuto que passa, sinto que estou perdendo você e sinto mais ainda que o que talvez fosse, nunca mais poderá ser. Porque a maior dor do não se ter é o sabor de não saber o que quer se ter e, com isso, cegar a emoção e talvez dar ouvidos somente para a razão, chutando pra longe a única oportunidade da vida de talvez ser realmente feliz.

Não aquela felicidade mascarada que alegra pouco, mas aquela felicidade de alma, aquela felicidade que se pudesse entrar no coração, ouviria apenas um som do vento ao longe vindo como que quase uma orquestra parada diante do mar. E a cada onda que quebrasse na areia seria um beijo meu em seu rosto, um afago em seus cabelos e a certeza de ter encontrado tudo que pedi e assim levantar correndo e gritar pra todo mundo que tenho tudo que preciso, e que pelo resto da vida não irei precisar de absolutamente mais nada.

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