Acordei com saudade de escrever para você. Talvez assim eu te sinta perto. Ou quem sabe apenas desafogue o peito.
Era para ter dado tão certo. Se eu olho para trás sinto vontade de
estapear a minha cara por não ter levado teu sentimento a sério. Lembra
aquela vez em que você, com os olhos cheios de falta do futuro e
esperança, perguntou quando nos veríamos novamente? Eu sorri com a
ironia costumeira no canto da boca e da alma e disse "nunca mais". Você
baixou os olhos, como um menino que tem o carrinho preferido destruído
por alguém que gosta de brincar de machucar.
Era para ter dado tão certo. Se eu olho para trás sinto vontade de
estapear a sua cara por não ter levado meu sentimento a sério. Lembra
aquela vez em que você, com os olhos cheios de sarcasmo, disse que eu
devia te esquecer? Uma lágrima quente começou a caminhar lentamente por
entre minhas sardas. E te ouvi dizer que deveria poupar meu choro para
situações mais importantes e significativas. Senti meu corpo amolecer de
tristeza e vi no seu rosto o vazio, não encontrei meu lugar preferido
ali.
Ainda lembro quando você disse que me queria. Para sempre. "Eu quero
você pra mim. Pra sempre". Talvez tenha sido coisa de momento,
dramatização romântica, frase de filme água com açúcar ou apenas uma
tática para derreter meu coração. Mas, sabe, eu acreditei. Eu acreditei
na sua frase, nas suas letras, nas suas sílabas, na sua entonação, no
seu olhar, nas suas promessas, no futuro que nunca chegou, no passado
que tanto me fez feliz, ainda que tenha sido breve, cheio de altos e
baixos.
Você fazia questão de me magoar, eu fazia força para te provocar. Nosso
encontro foi desencontrado. E o que tinha tudo para ser bonito acabou
ficando cinza, distante, gelado.
Você gostava de loiras, minhas luzes estavam sempre em dia. Não gostava
de decotes, passei a usar blusas mais comportadas. Não gostava de unhas
vermelhas, deixei de lado minhas preferências e adotei a misturinha como
esmalte oficial. Não gostava de mulher que falava palavrão e cada vez
que eu batia o dedinho no pé da mesa, ao invés de caralho ou puta que
pariu, eu dizia apenas um ai em dó menor. Fui me perdendo de mim para me
aproximar de você. Até que chegou o grande dia. O grande dia em que eu
não mais me reconheci. Olhei no espelho e vi, além da minha bunda boa,
uma pessoa totalmente programada para fazer as vontades de outra. Só que
essa outra não era eu.
Parei com as luzes, voltei a ter o cabelo natural. Ele veio acompanhado
dos decotes, das unhas vermelhas, pretas e cinzas e tudo que eu sou.
Porque eu sou assim, meio esquisita, muito romântica, um pouco atacada,
nada perfeita e um tanto dramática. E se isso não foi suficiente para
você, meu amigo, então você nunca vai ser suficiente para mim.
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