quarta-feira, março 27, 2013

Morte


Por André Lenz



Hoje cheguei à conclusão de que morri, não digo morte de corpo, pois senão não estaria escrevendo a vocês agora, mas sim morte de alma.
Meu coração já não bate mais forte, fica apenas pulsando o suficiente para me manter vivo, respirando. Aquele pulsar descontrolado e de ritmo frenético ao ver alguém, já não acontece mais, não sinto mais, como se ele fosse escapar pela boca ou explodir dentro do meu peito. Meu coração de tanto apanhar já desistiu de bater, não briga mais, ele apenas apanha.
Minha respiração é calma e serena, bem fraquinha. Já não perco mais o fôlego ao cruzar o corredor e dar de cara com alguém. Não me sinto mais ofegante só de olhar ao longe, muito menos tenho aquela respiração mais forte, típica de se estar apaixonado. Eu apenas respiro.
As mãos estão sempre secas. Nunca mais suaram e deslizaram ou foram apertadas uma contra a outra tentando disfarçar. Não é necessário, porque nada mais me desperta esse sentimento louco que mexe com os sentidos. Elas apenas estão paradas.
Os olhos conseguem ver somente a multidão. Não conseguem mais ficar atentos a uma só pessoa, esquecendo que no meio muitas outras estão ao redor. Os olhos não se fixam somente na mesma imagem delicada e magnífica, pois no momento, ela não passa de ilusão e sonho. Os meus olhos apenas enxergam.
A boca apenas acostumou-se a ter um sorriso comum, desses de contar piada e não mais um sorriso tolo de não ter o que sorrir só pelo fato de se estar feliz em pensar. Já não falo mais palavras bestas que a gente só fala quando não tem nada pra falar só por se estar feliz por amar. Agora falo por dizer qualquer coisa tola pra esquecer. Minha boca apenas sorri, apenas fala.
Meu corpo move-se no ritmo normal de viver, no ritmo normal do existir sem muitos propósitos. Viver por mim mesmo, porque não tenho ninguém por quem viver, por quem fazer, por quem sentir, apenas sonhos e pensamentos que se perdem ao mover do tempo cruel em cada dia mantendo minha angústia e desolando meus planos.
Meu coração, minha respiração, meus olhos, meu corpo, minha boca, meu tudo só me mostra que morri de sentir, de amar. Morri não de amor, mas morri por não amar e com isso, sigo minha vida desolado sem ao menos ter alguém que ressuscite em mim algo que agora está completamente perdido.

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