Nunca fui muito boa em aceitar as coisas. Sempre busquei uma explicação
para tudo, meu lado Sherlock Holmes tem fascínio em descobrir tim tim
por tim tim a parte oculta das coisas, o lado B das pessoas. Nem sempre
isso é fácil e rápido, mas quando mergulho de cabeça em um assunto não
há quem me faça sair dele.
Foi difícil acreditar e compreender que você me doía. Um sentimento não
deve doer tanto assim, pensei diversas vezes. Mas, você sabe, sei me
passar muito bem a perna, o braço, o apêndice e tudo mais. Perdi as
contas de quantas noites deitei a cabeça no travesseiro e comecei a
repassar mentalmente tudo que vivemos. Não me faltaram questionamentos.
Onde errei? O que poderia ter feito diferente? O que poderia ter
evitado?
Não era para você me doer tanto. Me apeguei, por instinto e carência, a
pequenos detalhes, fagulhas, faíscas que jamais existiram. Ou existiram e
eram pequenas demais. Voltei a repassar mentalmente tudo que podíamos
ter vivido. O que você poderia ter feito? Onde você poderia ter
aparecido, com um sorriso apaixonado e um olhar bobo, e ter me dito
fica. Fica esta noite. Fica esta semana. Fica este mês. Fica este ano.
Fica comigo esta vida. E na próxima também, porque eu sinto a sua falta a
cada segundo que meu olhar se perde do seu.
Tentei voltar no que ficou para trás, mas não consegui. O passado andava
rápido demais. Os passos eram largos, intensos, firmes. E eu tentava
desesperadamente correr atrás do que restou aqui dentro. Tudo foi em
vão. O meu mundo ficou pequeno, apertado, sombrio e triste. Existia
ainda algo sem cor e sem som chamado esperança. Uma esperança que
renascia a cada dia. Esperança de que você se arrependesse e me pedisse
com a voz trêmula e os olhos úmidos: fica. Fica até a gente se perder um
no outro. Fica para sempre, ainda que a gente não saiba se ele existe
realmente. Fica até depois que tudo terminar.
Então eu tentei tirar tudo da cabeça em um happy hour com amigos, um
novo corte de cabelo, um filme novo no cinema, uma bolsa nova, um novo
papel de parede, aquela viagem tão sonhada. Por breves momentos até
consegui, mas depois me dei conta que o novo nem sempre apaga o velho. E
que não adianta tentar pisar em cima de todos aqueles castelos de
areia, tem que deixar a onda chegar e levar.
Quis voltar para onde tudo parou e tentar fazer de lá um novo começo. Um
recomeço qualquer, mais bonito, diferente, sem os erros do passado. Mas
percebi que inevitavelmente o tempo passa e as pessoas mudam e as
lágrimas secam e você começa a se reerguer devagar. Então, sem tentar
fazer força, você olha o que restou dos castelos que a onda levou. E
percebe que está na hora de mudar de praia, de areia, de estrutura de
castelo. E começar uma nova história. Do zero.
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