sábado, fevereiro 16, 2013

O Quarto

 
Por André Lenz

Ela está na cama sentada olhando em direção à parede, tentando esconder as lágrimas que correm em sua face. Lágrimas sinceras de um sentimento sincero e não correspondido.
A janela está aberta, mas uma negra cortina a cobre e só deixa os raios de sol entrarem uma vez ou outra, quando o vento sopra uma brisa gelada fraca.
Ele sentado na pequena poltrona colocada do lado da porta, fica olhando o sobe e desce suave da cortina, olhos fixos para não deixar as lágrimas escaparem. Está pensando no que realmente importa, no que ele está sentindo dentro da sua alma naquele instante. Pensando em todo os momentos de felicidade que viveu do lado daquele ser tão meigo, mas às vezes, tão má e tão dominadora.
Na balança da vida, ele tenta equilibrar os bons e os maus momentos numa tentativa de realmente descobrir quais são as suas prioridades, quais são as suas necessidades, o que ele realmente quer.
Ela levanta e vai ao banheiro enxugar suas lágrimas, olha no espelho e vê seu rosto marcado pela dor, pelo aperto naquele coração tão incompreendido. Então, ela passa por ele, mas não procura seus olhos, caminha direto em direção à janela, abre a cortina e deixa a luz do fim de tarde entrar naquele quarto.
Ele olha aquele ser ali parado, lembra então, do fim de semana na cabana com a luz da lareira e o chocolate quente no sofá. Lembra do tapa que levou por receber um sorriso maroto de outra mulher lembra de receber café na cama e uma massagem em todo o seu corpo com óleo de menta.
Ela tenta olhar adiante mas não consegue. Ela sente medo de perdê-lo. Sente medo de que ele se vá e nunca mais volte, de que sua vida acabe sem aquele homem. Ele é tudo, ele é nada. O meu tudo, o meu amor.
Ele se levanta e vai em direção ao armário, pega uma mala e coloca na cama. Abre as gavetas e começa a colocar suas roupas na mala. Então, uma foto entre as roupas cai no chão.
A foto da primeira vez, a foto do primeiro dia, a foto onde tudo começou, apenas uma foto.
Suas mãos já meio trêmulas ajuntam aquela foto caída. Ele para... então, olha para a foto e pensa que tudo pode ser diferente, que tudo pode mudar. Que ele pode fazê-la feliz, mas antes ele tem que ser feliz. É uma troca, é um acordo, é uma vida.
Ele vai ao outro extremo do quarto e pega uma manta bordada e colorida, tem o cheiro dela. Caminha lentamente e a abraça colocando a manta sobre seu corpo delicado e trêmulo.
Ela sente um alívio e se aconchega nos braços do seu amor, ele começa a chorar novamente um choro intenso de liberdade, um choro de alívio, um choro não de tristeza, mas de alegria.
Ele a vira e os dois ficam cara a cara. Nos olhos estão as mil palavras a serem ditas que a boca não quer falar. Palavras de dor, de ódio, do tipo que magoa, do tipo que redime, do tipo que ama, palavras sinceras de desespero e amor.
Então, o sol testemunha o beijo puro e singelo de dois amantes, de dois estranhos, de dois amigos, de dois cúmplices, de um casal. Aos poucos o sol vai indo embora, deixando de iluminar aquele canto tão singelo, o quarto.
O quarto onde vive a paz e a discórdia, o quarto onde reina amor e ódio. Mas, principalmente, o quarto onde existe a esperança de que tudo vai ser diferente pra finalmente ser feliz.

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