quinta-feira, janeiro 17, 2013

Até o fim





Não sei direito como te falar isso, mas vou me esforçar para ser o mais natural, sincera e prática possível. Quero dizer que é um esforço terrível, já que de prática não tenho nada. Tudo eu questiono, reflito, pondero. Gostaria de ser mais ágil no pensamento, mais certeira nas ações e, também, mais racional. É muito cansativo viver na corda bamba dos sentimentos.

As pessoas nos escondem o jogo, só mostram o lado colorido das relações. Me desculpe, acho que me expressei mal. Elas até mostram o lado preto e branco, as diferenças, as dificuldades. Mas tudo acaba no “e foram felizes para sempre”. Não é justo com você. Assim como não é justo comigo.

Estou exagerando? Por favor, observe alguns livros, filmes e novelas. Os casais passam por uma série de desencontros e provações. No final, “abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim”. Tudo acaba em pizza, em casamento, em filho, em viagem. Na vida real nem sempre as coisas acabam bem desse jeito bonito de ler e ver.

A família da moça não aceita a família do moço porque ele é pobre. O ex atrapalha a vida da mocinha e inferniza o mocinho. O coitado do moço tem uma doença grave. É sempre assim. Mas lá no finzinho tudo fica bem, todo mundo fica feliz e contente.

A vida que eu vivo não tem último capítulo. É uma coisa nova a cada dia. Não tem último episódio para tudo se desenrolar. Não tem última temporada. Não tem nada disso. Eu não sei quando as coisas vão terminar, por isso vivo o hoje da melhor forma que consigo. Mas é bem verdade que não consigo fazer tudo (quem consegue?).

Acho um desserviço essa coisa de final feliz. Primeiro, porque a gente não sabe quando é o final. Segundo, porque felicidade instantânea e eterna não existe em uma vida a dois. Lá na novela que você assiste confortavelmente no sofá de casa, a protagonista e o “esse cara sou eu” se desencontraram, mas logo se ajeitam e vão ser felizes “ad infinitum”. Ele não tem bafo, não deixa a tampa do vaso levantada, não esquece a toalha molhada na cama, não deixa o tênis na sala, nunca está cansado demais, não se atrasa, não viaja, sempre presta atenção no que ela diz, não tem defeito, não tem mania, não tem personalidade forte, não é genioso, é um príncipe encantado irreal. O relacionamento deles nunca é monótono, não tem rotina, não tem briga, não tem discussão, não tem cara feia, não tem diferença, não tem descompasso. Eles se dão bem na cama, na mesa e no banho. Todo santo dia. Ela sempre goza, ele sempre tem vontade, ela lava, passa, cozinha, bate um bolo, se perfuma, malha e sorri. Tudo nos trinques.

Nenhuma relação é fácil e simples. É interessante, todo mundo quer alguém. Mas ninguém percebe que muito mais difícil do que conseguir esse alguém é manter o relacionamento sadio e forte. As pessoas se preocupam com o começo e com o final. Mas o meio, que é aquilo que a gente vive no dia a dia, fica esquecido, jogado em alguma caixa de papelão pegando pó e juntando mofo. É por isso que as coisas terminam. Quer saber? O meio é o que mais importa. É o que merece atenção, cuidado. Até o fim. 
 
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