Sem Fantasmas

Tenho identificado um problema recorrente, seja nos atendimentos como conselheiro amoroso que presto, como em minha própria vida. Este problema é o culpado por um medo meu desenvolvido que me atormenta e me deixa apavorado.
Bom, antes mesmo de abrir a verdade sobre meus problemas vou dizer o milagre mas não o nome do santo, mesmo porque pelos inúmeros atendimentos que dou os santos nunca seriam identificados. O que acontece é que embora exista o sigilo e o não julgamento em meus atendimentos com relação a sentimentos e experiências pessoais, eu não posso deixar de mencionar o quanto me assusta o número de mulheres que estão tendo um relacionamento seja em todos os estágios, como namoro, noivado ou mesmo casamento, mas que são apaixonadas secretamente por outra pessoa. Já nem faço mais cara de surpreso porque está tão corriqueiro eu receber este tipo de informação que qualquer movimento da minha face vai ser tudo menos espanto.
Tenho minhas teorias particulares a respeito de coisas mal resolvidas, sentimentos que as vezes são tidos como amor e na verdade não são. Trato a todo momento mulheres que pensam sentir algo por alguém quando passa de longe o sentimento sendo apenas e somente um dominio psicológico.
Existe de tudo, como a mulher negada que acha que ama o rapaz que a desdenhou, como a idealizadora que cria um algo em outrem que nem de longe chega a ser verdade dentre muitos outros tipos de prisões psicológicas e nem um pouco emocionais. Acho que dos casos que atendo menos de 10% é amor de verdade mesmo, aquele amor impossivel e que aceitam o fato de tocar a sua vida com outra pessoa pois nunca terão o que querem, esses são os casos minimos.
Acabo então desta forma dispendendo minha energia em resolver situações criadas por essas mulheres que sofrem por algo que na verdade nem é sentimento real. Dai agora quem me conhece ou mesmo já recebeu meu atendimento está se lembrando de como eu insisto na questão do mal resolvido, de aparar as arestas de um término de relacionamento. O mal resolvido são as perguntas e questionamentos em aberto que precisam ser respondidos pois fazem parte do auto conhecimento, do processo de crescimento de cada um, e as pessoas não fazem idéia do quão nocivo é uma pergunta não respondida. O mal resolvido entra na mente e faz um estrago do tamanho de um abismo que necessita de ajuda para o livramento.
Por isso acontece o que acontece, mulheres com casos mal resolvidos, que suspiram quando cruzam com seu ex ou que deliram em alguém que mal conhecem e idealizaram, ou o principal que é a escravidão psicológica. Temos então casais brincando de serem felizes, tentando tocar sua vida com resto e migalhas de pessoas que não estão por completo no relacionamento e sim em pedaços.
Toda essa informação recebida me traz algumas impressões sendo a primeira o fato de ficar apavorado se um dia estiver me relacionando ou tentando me relacionar com alguém que omita o fato de ter seus suspiros ocasionais vagando por ai. Se eu quiser me relacionar é necessário absolutamente que a pessoa esteja livre dos seus fantasmas e que assim eu possa confiar no real sentido deste relacionamento. Fico apavorado pelos homensque são os pares destas mulheres que atendo, eles não fazem idéia da parcial mentira que vivem, ao mesmo tempo não posso deixar de lado o fato de que a grande maioria merece isso mesmo, ou que sejam outros mal resolvidos da vida, embora a tendência masculina não seja essa, pecam geralmente pelo machismo mesmo. Mas o fato mor de eu exigir alguém de coração aberto é porque os meus demonios sentimentais eu exorcisei, estou pronto para viver algo sem interferências, algo direcionado e certo, sem suspiros ocasionais. Se sou assim cobro assim, apenas justo.
Já a segunda impressão é a dificuldade em se achar alguém puro nesse aspecto, como está exaustivo encontrar alguém que chegue pra você e num interesse ocasional diga que está livre, totalmente livre, sem cordas ou amarras. O tempo passa e cada vez mais uma sociedade carece de inteligência emocional, hoje não é o QI que é o mais importante ou necessário, e sim o QE, o emocional, porque as pessoas estão perdidas e não querem ser ajudadas. Preferem acreditar nas suas verdades inventadas  do que encontrar as respostas para os oques ou porques, preferem fugir do seu mundo do que encarar e bater de frente, preferem migalhas do que os completos.
Dai esses dias li uma frase: Se não for vir por inteiro nem venha, odeio as coisas em pedaços, não quero migalhas, quero simplesmente o que eu tenho a oferecer. Tudo.
Enquanto isso fico sentado na beira deste caminho, esperando encontrar alguém que passa e me diga, estou de coração aberto e então poderemos caminhar juntos. Vai dar certo? Talvez, mas pelo menos teremos certeza que seremos só nós dois, sem fantasmas.

Por André Lenz