sexta-feira, setembro 21, 2012

O que fazer quando ele para de beijar, não quer pegar minha mão, se afasta?


Entender, meninas.
É preciso entender que o mundo é frio. O mundo não tá nem aí. E entender que há muita gente fria no planeta, vestida com pele de ursinho, sorriso de simpatia e festa, exalando um calor brutal ao público que falta tanto na intimidade. Ah, meninas, quando um dos lados do casal ganha espinhos na pele e não toca, não retribui, não beija, se acomoda, é preciso entender.
Entender que provavelmente a coisa já era.
Entender que se essa frieza for por pouco tempo, por algum motivo justo, às vezes até injusto, mas real, tudo bem. Você apoia, você conversa, você procura, você ouve, você beija pelos dois.

Mas entender sobretudo que se não te tocar, não beijar, não encostar for o comum, se isso virou o normal, é que a coisa anda tropeçando às cambalhotas rumo a uma escada. Uma escada sem fim. Uma escada sem rumo.
Rumo, aliás, ao fim.
Por fim, entender que você precisa entender isso. E não insistir. E escapar. Mesmo que doa. Porque uma pessoa que faz isso com você – e mesmo que ela não pareça cruel fazendo isso – essa pessoa precisa ir. Você precisa fazer com que ela vá.
Pra longe.
Pra sempre.
HOMEM FRIO
Há dois jeitos de entender a pergunta aí de cima. O primeiro é mais boçal e é este:
Existem mesmo sujeitos que não curtem um contato físico em público. Homem que estranha mãos dadas. Homem que não gosta de abraço, de pegar. Que demora a topar que contato é bom. Às vezes, a gente põe isso na conta da criação – ele não tá acostumado a te pegar. Tem vergonha. Acha que pega mal. Não quer divulgar. Não quer que as outras saibam. Motivos são infinitos.
Isso é comum e é um exemplo de como homem é besta. Ah, meninas, eu mesmo sou uma besta quadradíssima. O esforço é diário, brutal, total, em busca da “circunferização” do meu “eu”.
Ah, eu não queria ser um peixe. Eu queria ser uma bolinha.
Sem quadradices, homens. Sem quadradices, mulheres.
Vou contar uma história.
UMA HISTÓRIA
Quando eu era bem moleque, naquela fase hedionda em que um garoto é todo submetido a pressões masculinas idiotíssimas, eu lembro bem de um dia, de um churrasco.
Tinha lá meus 16, 17… Ou 18?
Ah, meninas, aquela pressão total para fitar os olhos das meninas, e entender ali o que acontecia, se aconteceria, que por favor algo acontecesse. Chegar sozinho, ficar sozinho, sair sozinho, era sempre um inferno. A gente buscava alguém como um cavalinho busca um capim. Tudo automático, sem sentido, pra não pegar mal.
A solteirice, garotas, a solteirice é um problema eterno da humanidade porque a gente tem pressa. Quer resolver tudo em 15 segundos, esquecer alguém em três, quatro dias. A gente banaliza o encontro com o outro porque não consegue se encontrar sozinho. E calma, não sou contra a esbórnia, a diversão de uma noite só. Mas…
Mas, poxa, a vida é só isso aí, amanhã é um dia a menos, um passo a mais em direção à despedida final e, putz, viver assim é fazer tudo ficar comum demais. É deixar tudo vazio demais. Meninas, meninas. Passem um verniz, passem um açúcar de confeiteiro na própria jornada. Não maltratem tanto a si mesmas e aos outros. Não se permitam a um beijo negado de alguém que você ama.
Mas voltando…

VOLTANDO
Eu estava no churrasco, mendigando alcatra e atenção das meninas, na disputa ferrenha e ferrada com os meus amigos pra ver quem faturava mais carninha.
A gente lá naquele alheamento supremo de olhares até que, num momento, que durou três segundos, acho, mas pra mim, uma vida toda (eu lembro disso sempre, sempre, sempre quando me perguntam o que é amor), eu vi um casal.
Ele, o rapaz, estava andando, vinha andando rindo. E a namorada, correndo atrás, deu-lhe um pulo. Pendurou nas costas dele. Os dois rindo. Ele fez uma pinça com os braços assim pra trás. Pra segurar a menina coladinha às costas. Cavalinho. Ela deu um beijinho no cangote, ele ficou ali, carregando e conduzindo a menina. E seguiram assim, rindo, cavalinho, abraçados, beijinho.
Eu vi, eu olhei, eu pensei, eu disse de mim pra mim: “É isso aí… É isso aí…”
É isso aí, meninas.

QUANDO ELE NÃO TE TOCA
Diante de um sujeito que não te encosta, você precisa entender, precisa conversar, precisa sutilmente mostrar que tocar é bom, mas também precisa respeitar, entender que o direito de grudar e de não grudar tem o mesmíssimo peso. Acho ok um cara levar tempo pra se soltar. Acho ok manter uma distância enquanto um casal começa a entender se é casal ou se não é. Mas que isso dure pouco. Que isso dure até o amor nascer. E que esse freio dure muito pouco, na verdade. E que se durar muito, que a gente aprenda a ler o que isso significa.
Agora, ainda que sempre seja uma lindeza respeitar as diferenças, eu sinceramente não entendo e não respeito muito um sujeito que não pega, que não toca, que não beija. Tem que beijar. Tem que beijar todo dia. Nem que seja um pouquinho. E de vez em quando, pular nas costas dele e ele te segurar. E os dois rirem. Abraço. Mão no bumbum, no peito, no pescoço, na bochecha.
Ah, meu pai, tanta gente neste mundo passando fome com o coração…
E você e ele negando um prato de beijinhos…
Não pode.
Não deveria poder.
É desperdício.
A gente já é tão sozinho no mundo. O milagre de deixar alguém especial furar essa capa espinhosa que cobre os nossos ossos, poxa, isso é bonito. Isso exige tanto carinho. Tanta pele. Tanta doçura e maciez.
Se eu pudesse dizer algo a vocês e a eles, eu diria: peguem, peguem sempre, nunca deixem de pegar aquela pessoa especial. Um dia – sem chance de errar nesta previsão – eu sei que vocês deixarão de se encostar. Que seja em vida ou na morte. Um dia todo mundo separa. Donde pegar, beijar sempre que possível.
Que quando isso acabar, vai dar uma saudade.
O problema é quando a gente tem saudade estando junto. Quando tem saudade com ele a três palmos de distância. Quando ele não está mais ali, mesmo estando ali.
E aliás, meninas. E aliás… E aliás, sejamos docemente verdadeiros: há muitas de vocês que também são assim. Que não procuram. Que afastam uma mão e um dedo com vontade de carinho. Que congelam a gente numa frieza cheia de sorrisos e esporádicos carinhos. Não são somente os caras. Ah, mas não mesmo.
Acho isso tudo profundamente triste. E acho profundamente sintomático.
ETERNAS PRIMAVERAS
Que um relacionamento esfrie, normal. É da vida. Hoje tá quente, amanhã tá frio. Se até a natureza, nesta bolota azul em que a gente vive, é dada a temperamentos voláteis, que direi de mim e de você, dois farelinhos sujeitos ao menor vento.
Daí que entendo: há fases pra tudo quando se é casal. Mas tem que ser fase, não regra. Amor precisa de um pouquinho de primavera inicial, algum verão e muito inverno pra que a gente consiga viver no outono infinito que é o amor a dois.
A verdade? A verdade, meninas, é que a gente se engana demais. Que a gente finge não ver.
O pior cego não é aquele que não quer ver, é aquele que ama.
É aquele que não escuta o som do silêncio.
E que insiste.
Ó, mas vamos finalizando. Direi: um amor não retribuído aleija mais do que uma tipoia, uma cadeira de rodas, uma bengala. E sabe qual é o grande culpado, o grande problema? Você, eu e todo mundo que não vê naquela falta de tocar, de beijar, um sinal do fim dos tempos. Dos tempos a dois.
Meninas, ele não te beija? Ele não te toca? Então ele não te quer…
É triste, é tristíssimo. Que a gente é tão covarde. Que a gente vira a cara e não vê a mais espelhada das verdades. Que o problema é sempre o outro. Que a gente é capaz de negar uma beijoca e não ver a crueldade disso. Eu fico bravíssimo, mas mais que bravíssimo, tristíssimo como a gente conta as maiores lorotas do mundo a nós mesmos.
O sujeito, a sujeita que já causaram uma dor de amor, que enganaram, que gelaram por dias, semanas e meses quem ama, que fizeram o parceiro sofrer, que foram covardes e que depois, sofreram um pouco mas seguiram a vida como se tudo estivesse normal, como se fosse normal espalhar dor, esse sujeito deveria ganhar um prego eterno e dolorido no joelho. A gente deveria ter sempre mais cuidado com o outro.
Mas não tem. E o mundo é assim. O mundo não castiga. O mundo não vê. O mundo, aliás, vê o sol, vê a lua, vê a estrela. Você ele não vê. Você é um cisco.

O FIM
Não se culpem, meninas. Amar e não receber de volta amor, beijar e não receber um beijo de volta, isso tudo é uma paulada na cervical, dessas de não fazer mais a gente andar. É triste. Mas há quem goste disso. Há muita gente que gosta disso. De fazer você sentar e jamais andar novamente.
Se você, minha menina, está passando por isso, eu queria te dar um leve choque e um abraço e um beijo – o abraço e o beijo que ele não tá te dando. E então dizer: ele não te ama mais. Ele é covarde. Mas coitado, ele é só ele, o que ele pode e consegue ser.
E dizer por fim: sai dessa.
Que, repetirei: ele é covarde, é confuso. Comum demais pra admitir isso, esperto demais pra não te deixar ir, ruim demais pra não pensar que você sofre.
Quem não beija, quem não abraça, quem não pega na mão, não ama.
Certas coisas não deveriam mudar nunca.

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