Problema frequente entre os casais que, muitas vezes, os mantém em
estado de vigilância constante podendo destruir um casamento de anos e,
além disso, desencadear distúrbios psicológicos como o ciúme patológico,
por exemplo.
Em seu livro, Para Além do amor (1995,) Aaron Beck citou uma
pesquisa realizada no ano e 1983 por Philip Blumstein e Pepper Schwartz
onde foi constatado que pelo menos 21% das mulheres e 37% dos homens
tiveram um caso extraconjugal no prazo de dez anos depois do casamento.
Essas mesmas pessoas também foram questionadas sobre suas preferências e
todas concordaram que a monogamia seria fundamental para a relação.
Apesar desse entendimento, ainda assim traíram seus parceiros.
Caso extraconjugal é bastante comum, porém, os efeitos colaterais sobre
o casamento são extremamente devastadores se esses casos forem
descobertos. Quando isso acontece fica evidente o quanto o casamento
precisa de ajustes, esse sintoma é um aviso de que a união não está bem.
A grande maioria dos clientes que procuram ajuda psicológica informam
que já tiveram casos antes da separação.
Por que um caso tem um efeito tão traumático sobre o parceiro ofendido?
Caso este que muitas vezes são considerados pelos autores como sendo
insignificantes?
Isso acontece em função da interpretação que o outro faz da situação.
Aqui a situação é dramatizada em função do erro cognitivo tudo ou nada.
Em outras palavras, na infidelidade: ou se é fiel ou infiel. Não há meio
termo. Um único caso é o suficiente para rotular o parceiro de traidor,
infiel e mentiroso. Assim como uma pessoa que rouba uma vez somente é
considerada ladra ou a pessoa que se esquece de pagar uma conta
importante no mês pode ser considerada irresponsável. Diante dessa forma
de pensar o traído sente uma profunda ferida em seu orgulho ou sente
como se algo que lhe pertencesse tivesse sido roubado.
Essa visão tudo ou nada faz a pessoa traída perceber a situação como bem
mais ameaçadora à relação do que de fato é. Claro que não podemos
ignorar o fato de que a ameaça não é imaginária. Um único caso pode
realmente se estender para algo muito mais sério. O que os autores
procuram deixar claro é que nem todos os casos representam uma ameaça
tão importante para o casamento. Infelizmente muitos casais só procuram a
terapia quando o casamento já está muito sintomático. Uma terapia pode
ajudar o casal a resolver os problemas e assim reduzir a probabilidade
de recorrência do ato.
Uma das primeiras etapas corretivas é tentar reformular a perspectiva
que o traído faz do cônjuge infiel. Será a ofensa um pecado realmente
imperdoável? Quantos amigos casados já traíram? Será tão terrível assim?
Talvez após uma terapia o parceiro (a) perceba que se ele (a) quer com
sinceridade se dedicar à melhoria da relação, não há motivo para
procurar satisfação fora do casamento. E se de fato o parceiro percebeu
que cometeu um erro e se arrependeu de fato? Se pararmos para pensar é
compreensível que o parceiro traído fique desesperançado após a
descoberta do caso extraconjugal. Depois que isso acontece o traído
descobre que está vivendo com uma pessoa que perdeu todo controle. As
pessoas casadas precisam ter a sensação de que o parceiro não só ficará
dentro de certos limites como também de que tem algum controle sobre o
outro. Que podem influenciá-lo para que não faça nada que as magoem. A
confiança dá ao parceiro a segurança de que a relação vem em primeiro
lugar e que não será sacrificada por um capricho ou autoindulgência.
Muitas vezes dar satisfação ao parceiro não é se deixar controlar ou ser
submisso, mas sim dar segurança e paz a pessoa que ama. Concentrar-se
na meta na área afetiva é o melhor caminho para a harmonia. Por que
fazer algo que atrapalha o alcance dos objetivos?
Como recomeçar com tantas feridas abertas? Pesquisadores afirmam
que apesar das mágoas é importante que a pessoa ofendida pratique a
empatia e se coloque no lugar do outro, procure compreender que a
solidão dentro de um casamento pode deixar o parceiro totalmente
vulnerável. O perdão é essencial para a reconciliação e depois disso
entender que é necessário tolerar a incerteza de não saber algumas
coisas em relação ao parceiro. Tolerar a incerteza de não saber onde seu
cônjuge está em alguns momentos. É necessário o casal começar a
demonstrar que se importam um com o outro, voltar ao tempo da conquista,
dar-se presentes, sair com frequência para um jantar, fazer planos para
um fim de semana, planejar bons momentos a dois, enfim fazer coisas
diferentes. Os casais precisam acima de tudo aprender a dialogar e serem
honestos um com o outro para resolver seus conflitos. Muitas vezes, é
necessária uma terapia para aprender regras ou etiquetas na conversação e
assertividade a fim de evitar desentendimentos. Mas sim, é possível um
recomeço.
Por Cleonice Andrade
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