sexta-feira, março 30, 2012

Rainha....

Estava matutando a meses como faria o pedido, uma sereneta com uma musica romântica regada a violinos ou mais simples mesmo com violas. Poderia ser em um local público no estilo dos filmes aonde todos ao redor observam e ficam com aquela típica cara de "ai que lindo" seguido de suspiros longos e gotejar de olhos. Pensou em um jantar chique ou mesmo em flores enormes, se bem que flores geralmente os homens dão. Não, definitivamente flores ela não poderia dar.

Se conheciam a alguns anos, eram amigos intimos do tipo que falam segredos dos mais cabeludos e contam coisas que nossos pais nem imaginam que fizemos, amizade verdadeira, reciproca, como toda amizade sadia deve ser. Momentos altos e baixos todos tem, existe a fase do não querer ver, do magoar e do pedir desculpas, do chorar de rir até a barriga doer, do silêncio e do sofrimento as vezes acalentado somente por um abraço, por um olhar.

Sempre foram assim, nem sabiam dizer ao certo o dia que haviam se conhecido, quem saberia? Séculos? Se tivessem tudo isso de idade seria bem provável. A questão toda é que existia um equilibrio, uma cumplicidade verdadeira, pura, destituida de qualquer mácula ou interesse, desprovida do egoísmo que sempre insiste em distorcer e se satisfazer unilateralmente. Eram dois. Simples.

Não se sabia ao certo em que momento suas mãos tocaram diferente, rebuscou em sua mente como se fosse um flashback, mas não conseguiu ver o momento exato que elas se encostaram. Tentou ver o que haviam feito antes, buscou qualquer indício que entregasse o primeiro ato como sendo dele e não encontrava, e ao mesmo tempo descabelava-se na idéia de ter sido ela quem primeiro se entregou ao toque, quem poderia ser o causador? Quem era culpado de tudo aquilo? Importava?

Não demorou muito pra perceber o que invadiu de uma hora pra outra seu interior, não demorou pra perceber que sempre buscou alguém que a tratasse bem, e ele a tratava como princesa. Ele sempre parava pra ouvi-lá, olhava fundo nos olhos dela, prestava atenção aos minimos detalhes inclusive de seus tiques e trejeitos mais disfarçados, as conversas sempre eram ricas, enaltecedoras, mas sempre tinha o momento de ser feliz, de virar criança. Ela então começou a entender que não era importante escolher o melhor garoto, e sim aquele que a tornava uma pessoa melhor, que a tornava plena.

A vida prega peças e quando menos esperamos estamos atolados de dúvidas e questionamentos que podem ser decisivos por um simples momento, como se decisões de segundos pudessem mudar uma vida inteira e tornar o ordinário no extraordinário, naquele pequeno espaço de tempo do extra.

Decidiu não conviver mais com a dúvida, não poderia guardar dentro de si tudo aquilo que começou a sentir de uma hora pra outra, precisava fazer algo "extra" e teria que ser naquele final de semana. Teria que ser capaz de jogar talvez tudo fora por algo que acreditava, por algo que sabia que ele queria e desejava. Afinal o conhecia muito bem, sabia das suas couraçãs, do seu medo e da sua auto-estima incrivelmente baixa. Não se achava capaz ou merecedor de amar, havia tempos que seu coração não batia, só apanhava, e aquilo o deixou frio.

Então naquele final de semana andaram até a praia no escuro da noite, a lua estava brilhante e testemunhava todo fato de cima, majestosa e deslumbrante exibindo seu coelho. Levaram um lençol e estenderam na areia, deitaram olhando para as estrelas. A conversa volta e meia era interrompida por um quebrar mais forte de alguma onda, o vento sul que começou a bater fez ela se aninhar em torno de seus braços. Com aqueles movimentos leves que vão e vem a mão dela encontrou a dele. O suor tomava conta de todo seu corpo, podia sentir cada pelo de suas costas arrepiado e mesmo assim ele continuava olhando o céu, estático, petrificado de medo.

Suas mãos não se soltaram e foram acariciando lentamente um ao outro. Nessa hora ela viu que não adiantara de nada tudo que havia premeditado. Todo treino, todo diálogo imaginado nos minimos detalhes não serviu de nada, era completamente diferente daquilo que pensou. Sua voz parecia 200 vezes mais dificil de sair, abriu os lábios mas não disse nada, respirou pela boca com eles entreabertos, puxou ar do seu diafragma e disse:
- Namora comigo?
Ele engoliu sua saliva, respirou mais fundo e respondeu:
- Uhum!
E nessa hora apertou mais forte a mão dela que quase esmagou seu dedo. Não tinha voz pra dizer mais nada, não cabia em si. Transboradava felicidade.
Nessa hora ela teve a certeza que mais importante são os pequenos momentos. Que não importa o que se diga da boca e sim do que seu corpo fala. Atitutes, gestos, carinho. E que as vezes escondido dentro de algo superficialmente frio, pode existir um coração sedento por amor que não quer somente tratar alguém como princesa, mas que está louco pra fazê-la sua rainha.

Por André Lenz

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