quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Casais Grude

Casais grude

Amor, paizão, bebê, mozão, chuchuzinho... Qual é o casal que nunca adotou apelidos carinhosos que soam ridículos para quem está de fora? "Eu adoro chamá-la de gostozona, mas claro, quando não estou perto do sogrão", brinca o advogado Leandro Santana, de 30 anos.

Geralmente os apelidos indicam que o casal alcançou um nível de intimidade maior - aí os dois passam a fazer vários programas juntos, ligam um para o outro inúmeras vezes ao dia só para trocar palavrinhas de amor e, muitas vezes, acabam deixando os amigos de lado, comportamento do típico casal grude.

Cintia Pinho dos Santos, 28, está no início do relacionamento, na "fase cola" do namoro. Ela já tem a impressão de que os dois se conhecem há muito tempo, pois em vários momentos um sabe o que o outro está pensando. "Isso foi desde o dia que nos conhecemos (há dois meses). Foi como um imã, mas só de pólos positivos, porque na minha cabeça essa história de que os opostos se atraem é balela. As pessoas precisam ter afinidades para ficarem juntas. Como diz na música do Teatro Mágico ‘os opostos se distraem, os dispostos se atraem’", opina a publicitária.

Logo de cara, as afinidades começaram a aparecer e, em apenas um mês, os dois começaram a morar juntos. "Ele começou a passar mais tempo em casa, pois moro sozinha. Separei uma gaveta, depois ele deixou a escova de dentes, começamos a fazer compras no supermercado, cozinhar juntos, e assim foi naturalmente", conta. Além de dividir o mesmo teto, os dois ainda trabalham juntos, mas sob segredo. Cintia diz que os dois se tratam como colegas de trabalho e não querem revelar o namoro para não atrapalhar o ambiente profissional.

Já a designer Talitha Cicon, 24, não chega a trabalhar na mesma empresa do seu namorado, mas os dois têm a mesma profissão e vários gostos em comum. Ela confessa que vivem grudados. "Gostamos de fotografia, viajar, cozinhar, internet, artes, design, animação, cinema...", conta. O mesmo acontece com a designer Sandra Cavalcante, 30, que desde o início adotou o "namoro grude".

"A cumplicidade nos ajuda a enfrentar os problemas, cada vez estamos mais fortes e apaixonados. Sempre fomos grudentos, desde o início, mas estamos conseguindo ficar mais ainda", diz. A ciência explica a reação de Sandra, Cintia, Talitha e milhões de homens e mulheres. A paixão no início do namoro nos deixa totalmente dependentes e grudados ao nosso parceiro. É responsável até por crises de abstinência. De acordo com uma pesquisa feita por Cindy Hazan, da Universidade Cornell, de Nova York, três substâncias dominam o cérebro no início da paixão: dopamina, feniletilamina e ocitocina, responsáveis pela sensação de bem-estar e euforia. Quando os casais usam no próprio diálogo a linguagem de bebês despertam o sentimento de cuidado, assim como pais e mães fazem.

Segundo a psicóloga Marisa Bortoletto, se o homem é o lado grude da laranja é preciso estabelecer logo um diálogo desde o começo do namoro, às vezes, esse comportamento pode significar carência ou insegurança da parte dele.

"Historicamente a sociedade considera a dependência feminina ao homem como algo natural, pois caberia ao homem proteger e prover a mulher em suas necessidades. Quando observamos essa atitude nos homens, consideramos uma relação mais próxima de "mãe e filho" do que homem-mulher", explica. Ainda conforme a psicóloga, o relacionamento grude em alguns casos ainda pode esconder o sentimento de posse por parte deles. Ou até a insegurança. "Por isso é comum ver mais casais grudados entre os adolescentes. Eles estão vivendo um processo de autoafirmação e descoberta da própria identidade, desta forma, as inseguranças próprias da idade vão encontrar parte das vezes um conforto ao lado de quem se gosta", aponta.

Na opinião do psicólogo Silmar Coelho, o namoro representa a fase do conhecimento do casal, a primeira etapa na busca do equilíbrio nas relações. "Quem quer casar tem que estar disposto a compartilhar sua intimidade, como respeitar limites. Não se pode sufocar o outro. Como não se pode viver como se ele não existisse", acrescenta.

Por isso é importante que cada um tenha o seu espaço. "Cada um tem um tempinho para sair com os amigos, mas coisa rápida. Não gostamos de dividir atenção com mais ninguém", brinca Cintia. Sandra é da mesma opinião, tanto que já estabeleceu desde o início do namoro um dia da semana só para sair com os amigos. "A relação só funciona porque confiamos um no outro. Não tenho motivos para desconfiar até se eu tiver feito coisa errada, porque ele não é uma pessoa que julga, assim como eu não sou. Ciúmes até acontece, mas a gente optou por rir da situação ao invés de brigar por isso", conta.

Como vivem juntos, colados, eles tomam cuidado para não cair na rotina facilmente, mais do que isso, um não acabar enjoando da presença do outro. "Por isso sempre combinamos de fazer algo diferente, que possamos compartilhar - desde ver um filme no cinema no meio da semana a passar num lugar e comprar um presentinho. Quando estamos numa rotina muito forte o combinado é um dos dois fazer alguma coisa para dar uma reviravolta", diz a publicitária. Além de saber administrar o dia a dia no relacionamento meloso, também é fundamental entender que as próprias características não devem ser deixadas de lado, além disso, é importante não tentar encontrar certos comportamento no parceiro, fazer dele uma pessoa que não é.

"É sempre prudente lembrar que todos nós necessitamos desenvolver aquilo que é próprio e indivisível e que este aspecto precisa ser encontrado em nós mesmos e não no outro. Assim, o "grude" poderá um dia se transformar um amor verdadeiro onde as duas individualidades poderão coexistir", completa a psicóloga.

Por Juliana Lopes

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