quinta-feira, janeiro 19, 2012

Ser ou não ser

Por Marco C. Leite

"To be or not to be" em Hamlet do mestre Shakspeare.


As pessoas buscam tantas coisas nessa vida que acabam se perdendo dentro de si mesmas. As vezes buscamos explicações, buscamos razões, buscamos tanta coisa que nos indique quem somos nós que acabamos deixando de lado nossa definição mais trivial e também aquilo que mais fala sobre quem sou eu. Nosso próprio nome.


Nosso nome não diz muito da gente, mas diz sobre quem sou eu. Diz que há alguém que existe para um outro e que neste existir para alguém espera-se algo dele, tanto de quem existe, quanto do outro que me permite existir.

É interessante ver como dizer o nome de alguém pode mudar toda a história de um objeto, animal, ou mesmo e principalmente, de uma pessoa. É interessante saber que as pessoas que mais marcam nossas vidas são aquelas que de uma forma ou de outra, jamais esqueceremos seus nomes. Podemos esquecer quem são, o que fizeram, ou ainda nem sequer lembrar da voz, da fisionomia, ou do porque que ela foi um dia importante, mas seu nome, é muito mais díficil de ser esquecido.

Lembro-me do nome de duas professoras que tive. Uma delas pegava muito no meu pé e eu a odiava. Era professora de português e como eu odiava aquela mulher que todo dia brigava comigo porque eu não fazia a tarefa. Final do ano lembrei-me de estar feliz porque ganhei uma estrelinha por uma "redação" que eu havia escrito. E hoje meus amigos, só lembro-me do nome dela, Patrícia.

Seu nome me remete a uma parte de minha história. Claro que o nome não quer dizer que seja ela, mas por alguma razão o nome dela condensa todo o ser que ela foi pra mim naquele momento.

É o nome que procuramos desesperadamente lembrar quando encontramos alguém na rua.

Quando alguém não lembra nosso nome, ficamos sentidos, parece que não significamos nada, ou que fizemos muito pouco na vida do outro. É sempre ao nome que estão ligados uma série de sentimentos bons e ou ruins que guardamos. Alguns dizem "Não quero nem ouvir o nome de fulano".

É esta parte de nós, parte falada, que nos define enquanto pedaço de história na vida do outro, enquanto alguém que é, que existe e que também ocupa um espaço, mais ou menos bem difinido, na linha do tempo.

É legal pensarmos o nome como uma continuidade genética. Passada de pai para filho, diferente do DNA este é visível. É o nome que nos identifica com uma causa, por exemplo quando estamos em um grupo e damos um nome ao grupo, muitas vezes nos identificamos tanto com a causa que aquele grupo passa a ser nosso sobrenome. Assim era feito na idade média com Dom Luíz de Bragança, por exemplo, ele é o Luiz que veio de bragança, pronto, tá aí o nome definindo quem é e da onde veio, e o que faz (dono de bragança).

Mas o nome é só um conjunto de letras que produz um som ao ser enunciado.

"O significante (nome) é apenas o som da palavra esvaziado de sentido, como uma palavra estrangeira desconhecida ou o nome próprio que, embora designe, nada significa. Se não se conhece ninguém que responda por aquele nome próprio..." (Quinet, A. "A descoberta do inconsciente")

É isso mesmo, assim como os nomes nos designam, nos colam a uma representação gráfica e também a uma representação de um som, eles nada significam, nada falam de quem o possui, ao não ser que quem o possui chama-se fulano ou beltrano.

O nome pode falar, pode representar, mas acima de tudo diz de alguma coisa, de alguém, mas sempre ligado a minha história, ao que eu compreendo por aquele significante, por aquele nome.

Isso faz uma diferença danada quando quando pensamos sobre a identificação e a dificuldade das pessoas serem de forma diferente, de mudarem, de serem alguma outra coisa diferente daquilo em que estão acostumadas a ser.

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