sábado, outubro 22, 2011

Sonata


Por André Lenz

Estou parado aqui, no meio da rua, no meio do nada, esperando de repente uma chuva a toa que caia sobre mim e quem sabe lave minha alma.
Alma cansada, agonizante de um aperto daqueles mais cruéis do mundo simplesmente causado pela falta e pelo não ter.
O silêncio é quase que uma faca a não cortar meus ouvidos, faca? aonde?
Ao meu redor vejo um muro de pedra, muitas flores balançam por sobre o muro e as árvores começam a dançar num ritmo quase igual ao vai e vem do mar.
Na minha cabeça insistentemente ouço uma sonata, talvez do luar, talvez de beethoven, mas alguém se importa?
O cantarolar das notas batendo no piano é a única coisa que consigo me concentrar.
Saio correndo como em disparada pra esquerda, acho que vi alguma coisa, talvez nada, delirio? Quem sabe.
Corro pra direita freneticamente, e ao termino rasgo minha camisa pois as gotas de suor já me deixaram completamente encharcado.
Grito bem alto, um daqueles aaaaaaaaaaaaaa, libertadores, como se por um acaso alguém fosse ouvir algo, ouviu?
Só me resta deitar no meio desse mato verde e olhar para o céu e ver como o azul limpido fica tão sem graça sem o branco das nuvens ou sem o escuro da noite.
Fixo meu olhar no alto e sinto Seu cuidar, Seu amor, mas mesmo assim essa dor intrépida insiste em me atormentar.
Alguém me salve, socorro, socorro, me salve de tudo, me salve de mim, me salve do mundo.
A espera fica mais e mais solta em leves momentos de quase não existir, de apenas permanecer, como se a gota de chuva viesse verdadeiramente e me limpasse, ou apenas tirasse esse calor e esse suor por sobre meu corpo.
Perco o tempo, perco as horas, vivo não mais nos minutos mas sim nos segundos milimetricamente contados como se fossem nucleares, vivo no curto espaço de tempo que não me faz envelhecer.
Quero esperar, quero continuar, quero e quero, mas ao mesmo tempo sei que não consigo.
Porque a dor que sinto vai curar, o tempo de um segundo vai passar e quando vir a chuva, aquela com gotas caindo do tamanho de um rio, sei que vai purificar a minha alma, não porque ela realmente limpa ou não porque realmente eu esteja sujo e cansado, mas sim pelo simples fato de que eu acredito nisso e tenho somente duas letras comigo. Fé.

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