segunda-feira, maio 16, 2011

Aprender a Amar.


Por Marco C. Leite

O amor para ser aprendido é diferente de todo o resto.

Sentimentos de raiva, de ódio, de alegria, de tristeza, de fome, de desejo, de vontades, geralmente aparecem e a gente sabe muito bem que estão ali. Esses sentimentos costumam nos mover e são normalmente de dentro para fora. É como se algo dentro de nós se movesse e nos impelisse para atuar da forma como nos sentimos. Na alegria nós sorrimos, na tristeza choramos, na fome comemos, no desejo nós vamos atráz e fazemos de tudo para conseguir o que queremos, assim é com cada um deles.

Com relação ao amor é um pouco diferente. Ninguém sente o amor, a gente sente a paixão que sem um objeto para que estivéssemos apaixonado poderíamos pensar que a pessoa apaixonada esta muito doente. Algumas pessoas quando apaixonadas perdem o sono, o apetite, acordam já saltando da cama, falam e sorriem sozinhos, entram em um estado de ansiedade quase insuportável só de ouvir o nome do objeto de sua paixão. É, a paixão é mortal, ela mata uma pessoa e a tranforma em outra. Mas este estado de apaixonado tende a passar, digamos que é o primeiro momento para que uma relação de certo. Seja uma relação com outras pessoas ou consigo mesmo.

O amor é em demasia diferente. Normalmente a gente não pensa nele, quando ele aparece ele dá sinais de indiferença com relação aos outros sentimentos. É como se os outros sentimentos fossem indubitavelmente menores e menos importantes que ele. Você pode morrer de ódio da pessoa que está amando que mesmo assim não para de pensar nela. Não consegue ficar longe e quando fica, o "destino" encontra uma forma de fazer você encontrar o objeto de seu amor.

O sentimento vai tomando corpo e aos poucos a gente percebe uma dependencia absurda com relação a um outro. Esta dependencia tende a aparecer frente aos momentos de desamparo. É para aquela pessoa que você precisa ligar para contar algo trágico, ou simplesmente para dizer que está feliz. É aquela pessoa que se tirassem ela da sua vida, racionalmente falando, parece que não faria falta em um primeiro momento, porque existem outras tantas pessoas perto de você, mas que ninguém, absolutamente ninguém ao final das contas consegue tampar o buraco que a ausência dela deixou. Perder uma pessoa amada é enlouquecedor. Já viram uma criança que perde seu animalzinho de estimação? Fica sem comer, sem dormir, chora, entra em m estado de luto bem depressivo, mas como criança é criança, logo logo volta a ser criança, as vezes tem algumas que ficam até doentes. Quando o bichinho está ali no dia a dia é quase invisível, só serve para dar trabalho, para ser companhia nos momentos de solidão, para fazer festa quando chegamos em casa (lembro-me de todos bichinhos que eu tive, era e é muito gostoso chegar na casa de meu pai e encontrar a Baby chorando querendo um cafuné), mas é na ausência que se percebe o quanto nossa rotina fica vazia.

Mas pera aí, estou falando de animal ou de pessoa? Não importa, o amor é uma "energia" pura, quem ama e não interessa o que ama, seja qual for o objeto de amor. Uma árvore em especial, um animal, uma pessoa, uma casa, um jardim, um banco na praça. O amor é algo tão acima dos outros sentimentos que é considerado na Bíblia como divino. São Paulo escreve que "Deus é AMOR".

A gente não aprende a amar porque o amor não é ensinado, ele também não é sentido, mas se tem uma coisa que podemos dizer do amor é que ele é vivido. O único que pode gerar vida e mantê-la é o amor. Viktor Frankl no seu livro "Men´s Serch For Meaning" diz que o que mantinha as pessoas psiquicamente em condições de sobreviver ao campo de concentração era a lembrança de seus entes queridos. Em outras palavras, mesmo na certeza de que os amados não estavam mais vivos, era o amor por eles que os mantinham firmes e com saúde.

Geralmente a gente não se dá conta de que está amando, é necessário um outro para fazer essa função e dizer isso. Tudo bem, a gente sabe de uma forma ou de outra que ama porque sente falta, porque a vida ganha um novo colorido, porque as coisas mudam de aparência, mas nem tudo são flores. O amor nos mostra o verdadeiro colorido das coisas. Traz consigo a responsabilidade de que o colorido do mundo é pintado a cada dia um pouco você e um pouco o outro. E nem sempre o outro usa cores que você quer. Quase nunca o outro coloca o desenho onde para você deveria estar. Mas é através do amor que compreendemos a beleza da diferença. Não sem antes nos incomodar bastante com aquilo tudo. Enquanto a paixão é tudo pintado de uma cor só, os dois só podem pintar sobre um desenho que já está feito. No amor os dois ganham autonomia para manifestar outros desejos, para desenhar um sol dentro de um carro, em vez de colocá-lo fora, para por a chuva dentro de um copo de água, e por aí vai.

Nem tudo são flores, mas através do amor compreendemos que também os vasos são belos. Que até a terra tem sua beleza, que até mesmo o esterco que vai no adubo cumpre uma função. Eu acho que amor não é poesia, ele é uma narrativa insana da uma história de alguém que ama.

Aprender a amar é olhar para sua própria história e dela pensar com carinho que foi tudo isso que te trouxe até aqui. Foi toda sua vivência que te levou a ler poesias, a conversar com amigos, a ter um bichinho, a gostar de picolé de frutas, a adorar ficar sozinho, ou acompanhado. É necessário sempre amar-se primeiro, compreender-se não psicanalíticamente falando com a história do inconsciente e tal, acho que é uma compreensão mais razoável, mais singela, uma compreensão que as vezes nos escapa.

Claro que uma psicoterapia nos ajuda nisso tudo, mas as vezes um simples olhar no espelho e admirar as conquistas que aquele rosto personificando você inteiro conseguiu realizar é tão proveitoso quanto.

Enfim, é possível aprender a amar? Claro que sim, mesmo porque o amor já está aí, mas como eu disse de tão sublime que ele é, acaba esnobando nossa busca, e fazendo-se de indiferente em tudo. Basta que percebamos em nós mesmos quais são seus movimentos e aonde ele quer nos levar. É este ponto que muitas a gente para e pensa que não consegue nem amar e nem ser amado. Não deixamos o amor tomar seu rumo, seguir seu curso, não permitimos que ele nos mostre onde ele quer chegar porque perdemos muito tempo buscando o que é o amor, quando na verdade, até mesmo essa busca nos mostra que isso de buscar, buscar, buscar, mesmo sem encontrar nada é amar.

Lembrando que lá no fundo o amor "é fogo que arde sem se ver"...

2 comentários:

Anônimo disse...

Marco, concordo com suas palavras. Passei grande parte de minha vida confundindo paixão com amor e confesso que muitas foram as decepções. Hoje, estou noiva de alguém, por quem não sinto paixão...Já sofri muito e ainda tenho alguns bloqueios que me impedem que eu o ame de verdade. As vezes tenho medo de não conseguir mais amar...

Unknown disse...

Bem complicada a sua situação... Para ser muito sincera acredito que se não amo um homem, não vou aprender a amar no sentido de amor romântico, já fiz o teste! A paixão vem, nos estremece, daí pode começar o amar,e isso tem que ser cuidado, para não morrer! Mas se não existe ações, bem querer,emoção, sinto muito, mas isso não será aprendido.