segunda-feira, junho 21, 2010

Até que a primeira crise os separe

Há casamentos que não completam um mês após o "sim" no altar. Por que as uniões estão tão efêmeras?
Por Caio Barretto Briso



A JATO
“Ele gostava mais de jogar futebol com os amigos”,
diz Thais Machado, que se separou do marido 22 dias depois da união

A história tinha tudo para ser um conto de fadas. Um namorado romântico e dedicado nos intensos dez meses de relacionamento, a expectativa de um futuro feliz e uma superfesta de despedida de solteiros, que custou R$ 15 mil e teve até trio elétrico nas ruas de Goiânia, onde o casal morava. Mas apenas 22 dias após dizer o “sim” diante do juiz de paz a estudante Thais Machado, 26 anos, concluiu que a relação não tinha futuro e se separou do então marido, cujo nome prefere não expor. O que levou Thais a descobrir em tão poucos dias que seu príncipe era, na verdade, um sapo? “Parecia que ele gostava mais de jogar futebol com os amigos do que de ficar comigo”, disse, decepcionada. “Então, peguei meu travesseiro e meu edredon e fui embora.” Hoje, quatro anos depois, Thais mora com a filha, de um outro relacionamento, e a mãe em Curitiba. Arrepende-se de ter casado, mas não de ter se divorciado. “A separação, embora rápida demais, me ajudou a cuidar melhor de mim”, diz. Thais faz parte de um grupo pequeno, mas crescente nas estatísticas brasileiras: o de pessoas que desistem do casamento rapidamente.



Thais Machado e o ex-marido

Segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2008, poucos casais desfizeram a união no primeiro ano de vida em comum. Foram apenas 20 – cinco anos antes, por exemplo, não houve nenhum caso. O número cresce exponencialmente quando entra em cena o segundo aniversário: 2.329 uniões não completaram dois anos, um crescimento de quase 10% em relação a 2003. Para especialistas, este é um sinal dos tempos. “Somos cada vez mais individualistas. As pessoas acham inconcebível abrir mão de algo pessoal em função do outro”, diz a terapeuta de casais Junia de Vilhena, professora de psicologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. “É claro que um casamento relâmpago não é o ideal, pois o investimento emocional é sempre grande. Mas faz bem terminar logo algo que nos causa dor”, afirma Junia. O sexólogo Amaury Mendes Júnior concorda: “Estamos mais egoístas e a dificuldade de vínculo duradouro nos relacionamentos é imensa.” No universo das celebridades, esses rompantes são quase comuns. Dos apresentadores Adriane Galisteu e Roberto Justus (casaram em dezembro de 1998 e se separaram oito meses depois) ao jogador de futebol Ronaldo e a apresentadora Daniella Cicarelli (casaram em fevereiro de 2005 e se separaram após três meses), há inúmeros exemplos. Os mais recentes são os do jogador Alexandre Pato e da atriz Stephany Brito e do também futebolista Roger Flores e da atriz Deborah Secco (leia quadro abaixo).


RÁPIDO

O psicólogo Mario Dias teve um
casamento de um ano

Os casamentos relâmpagos são tema recorrente de consultórios psicanalíticos. Até quem se separa não entende bem o que aconteceu e busca ajuda em terapia. “O vínculo não tem a mesma importância de décadas atrás”, afirma a terapeuta de casais Adriana Wagner, professora de psicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E hoje as pessoas superam mais rapidamente o trauma do divórcio. “Meu sofrimento foi muito menor do que o da minha mãe quando ela se separou”, compara o psicólogo carioca Mario Teixeira de Moura Dias, 36 anos. Ele próprio viveu a experiência do casamento a jato. Divorciou-se da primeira esposa pouco mais de um ano depois do matrimônio, em 2007. Mas, entre namoro e noivado, eles ficaram oito anos juntos. “Chega um momento em que as piadas não têm mais graça, todas as tentativas não fazem mais efeito”, resume Dias. Com rara sinceridade, ele admite que, por pagar todas as contas, se sentia no direito de cobrar dela mais responsabilidades – na organização da casa, na faculdade, no estágio. O psicólogo, entretanto, acha que a experiência de uma união efêmera também pode ter um lado bom. “Antes, o amor era uma massa disforme para mim. Saí desse relacionamento com um entendimento maior do amor como altruísmo, companheirismo e dedicação”, avalia Dias, agora feliz, casado com Larissa e pai de Isadora, nascida há um mês.

Além da decepção que a vida em comum pode trazer, o ciúme é outro motivo recorrente para um casamento durar pouco. Foi o que aconteceu com o tricampeão brasileiro de surfe João Magalhães, carioca de 52 anos. Menos de um ano após seu quarto casamento, a ex-mulher teve, segundo ele, uma “crise de ciúme doentia” e chegou a agredi-lo fisicamente. “Eu trabalhava até as 23h, mas ela achava que eu estava com outra mulher”, conta. Hoje os dois são amigos, mas só voltaram a se entender após a separação.

O número crescente de divórcios movimenta os escritórios de advocacia da área de família, que cobram entre R$ 5 mil e R$ 10 mil quando a separação é consensual. É o processo mais simples e mais barato. Se houver partilha de bens, os advogados ficam ainda com 10% sobre o valor deles. Quando a pessoa se arrepende em até dois anos, ela pode pedir a anulação do casamento usando um recurso chamado “erro essencial”. “É um processo mais complicado e mais caro (pode custar até R$ 20 mil), mas o estado civil com a anulação é de solteiro, não de separado”, explica a advogada Fátima Araújo, que percebe o crescimento dos casamentos relâmpagos no escritório, sobretudo na faixa de 20 a 30 anos. O melhor, porém, é pensar bem antes de subir ao altar. Mais do que dinheiro, poupam-se tempo e sofrimento.



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