terça-feira, março 09, 2010

A existência acredita em polos

Perguntaram a Osho: "As mulheres realmente pensam diferente dos homens? Ou isso é só uma superstição?"

Não é só superstição. E é muito bonito o fato de não ser superstição. O mundo precisa dessa variedade. Imagine – um mundo onde só os homens existissem ou um mundo onde só as mulheres existissem... seria um mundo pobre, muito pobre.

Os homens e as mulheres são polos e é entre eles que o mundo se torna colorido, belo.

Mas sim, também existem problemas. As flores não vêm sozinhas, vêm com seus espinhos também. Os dias não vêm sozinhos, eles trazem suas noites com eles.

A existência acredita em polos. Funciona como o que Karl Marx chamou de dialética. O processo da evolução é dialético. É entre as polaridades que o mundo da existência se desenvolve.

A mulher é mais intuitiva, mais instintiva. Se ela não meditar, será apenas instintiva. Ela pensa com seu corpo. Ela é mais ligada ao corpo do que o homem, ela conhece mais seu corpo do que o homem; e no corpo encontramos toda a evolução ocorrida durante milhões de anos.

O homem está mais ligado à mente, é mais intelectual. Mas o intelecto é um desenvolvimento muito tardio. Enquanto o instinto é antigo e profundo, o intelecto é superficial e novo, muito infantil. Se o homem meditar, ele terá mais dificuldades para se livrar do intelecto, pois toda a sua educação e criação foram baseadas na mente, no intelecto. E, para meditar, ele precisa deixar de lado tudo o que sabe.

A mulher pode meditar com mais facilidade, porque o salto do instinto para a intuição é muito simples. O salto do intelecto para a intuição é mais difícil, só que, infelizmente, durante séculos, a mulher não teve permissão de participar do mundo da meditação.

Ela tem sido, na verdade, rejeitada por quase todas as religiões. A razão é simples: todas as religiões são contra o corpo, e a mulher é guiada por ele. Ao rejeitar a mulher, elas estão rejeitando a orientação corporal. Elas são contra o corpo. Todas as ideologias religiosas são intelectuais.

E, certamente, a mulher não consegue participar tão facilmente de atividades intelectuais. Ela se sente entediada, e pensa: "Por que os homens ficam discutindo tanta bobagem quando existem tantas coisas interessantes acontecendo?"

O homem acha que a mulher só serve por causa do corpo dela, só é boa para o sexo, e que ela não é boa para nenhuma conversa intelectual, ou filosófica. Os homens e as mulheres sabem que são um pouco estranhos. E ambos concordam com relação a isso.

Já ouvi dizer que o homem foi feito antes da mulher para que ele tivesse tempo de pensar o que responder à primeira pergunta que ela faria.

Certamente existe uma grande diferença entre o modo de pensar do homem e da mulher, o modo de enxergar as coisas. Mas isso deixa a vida mais saborosa, mais temperada. O mundo precisa de todos os tipos de instrumentos musicais para formar uma orquestra. Apenas um tipo de instrumento musical fica muito tedioso.

A mulher não foi respeitada no passado. Isso deixou o mundo empobrecido sob muitos aspectos, por que a mulher não pôde expressar sua maneira de ver as coisas.

Ela foi forçada a pensar como homem, a se comportar como homem, a ser apenas uma sombra do homem, mas não permitiram que ela fosse ela mesma. Isso era algo muito feio e condenável. Eu condeno isso incondicionalmente.

A mulher deveria ter a permissão de ser quem ela é. Não precisa ser uma cópia do homem, não tem de pensar como o homem. Ela tem de pensar por si mesma, tem de ser ela mesma, e isso dará ao mundo uma polaridade mais ampla.

Quanto mais distantes estejam as individualidades do homem e da mulher, mais profunda será a atração entre eles. Eles deveriam ser estranhos um para o outro – só assim podem se apaixonar um pelo outro. Eles deveriam permanecer misteriosos um para o outro. Só então o amor deles poderia ser uma alegria, uma descoberta constante.

Mas a mulher tem sido massacrada. Seus mistérios têm sido massacrados. Ela tem sido usada somente como uma fábrica de produção – sem receber os direitos humanos básicos. E isso tem deixado o mundo chato, feio.

O homem tem dominado essa relação a tal ponto que a história toda está repleta de guerras. Se a mulher tivesse igualdade de oportunidades de crescimento, o mundo não teria visto tantas guerras. Porque, em todas as guerras, são os homens que morrem, mas as mulheres que sofrem.

Ser morto é fácil. Muito mais difícil é sofrer. A mãe sofre por seus filhos que são mortos. A esposa sofre quando seus entes queridos são mortos. As irmãs sofrem quando seus irmãos são mortos. E a agonia delas vai durar pelo resto de duas vidas. Para aqueles que são mortos, é algo muito pequeno. Acontece dentro de segundos – e você morreu. Mas a mulher tem sofrido há séculos.

Nenhuma mulher quer a guerra, porque ela é sempre a principal vítima, e não o homem. É o homem quem cria a guerra, é o homem quem luta na guerra, mas é a mulher quem sofre.

A mulher é metade do mundo – se essa metade do mundo tivesse a permissão de se expressar, a história teria sido diferente. Teria sido mais pacífica, mais amorosa, mais sensível, mais harmoniosa. Ainda há tempo para permitir que a mulher seja simplesmente quem ela é, pura, não influenciada pelo homem. E teremos um mundo e uma humanidade melhores.

Não é triste o fato de que as mulheres pensem de maneira diferente. É imensamente significativo e algo que deve ser profundamente comemorado. Mas a mulher precisa de sua liberdade completa. O mundo vive dominado pelo homem já há muito tempo. Já está na hora da mulher ter sua participação em tudo o que está acontecendo. Ela tem de contribuir com sua parte, que será diferente da parte do homem.

E criará um todo mais harmonioso do que fomos capazes de criar até agora. Tem sido um semicírculo. É preciso que se faça um círculo inteiro. A vida tem de ser total – o homem e a mulher juntos, contribuindo com as qualidades inatas de cada um: seus potenciais distintos, suas linguagens diferentes, suas maneiras diversas de pensar, ver e ser.


Osho, em "Além de Marte e Vênus"

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