quarta-feira, setembro 23, 2009

Mãos

Eu, o Senhor, te chamei em justiça, tomar-te-ei pela mão, e te guardarei. Isaías 42:6.

Ela era uma garotinha muito confiante, auto-suficiente – isto é, na aparência. Mas era uma criança muito solitária, filha única de pais muito jovens que se divorciaram antes que ela conhecesse realmente o seu pai. Ela e a mãe foram viver com os pais do seu pai. Sua jovem mãe trabalhava à noite numa farmácia no centro da cidade, voltando para casa muito tarde.

Os avós da menina administravam uma grande pensão, com inquilinos pagantes. Não se sentiam tranqüilos colocando a menina para dormir sozinha no terceiro piso, no quarto de sua mãe, de modo que colocavam duas cadeiras grandes, estofadas de veludo, uma de frente para a outra, a fim de fazer uma cama para ela todas as noites. Embora a garotinha fosse feliz, ainda se sentia muito insegura. Assim, todas as noites, vovó puxava as cadeiras-cama para bem perto do seu leito e estendia a mão para segurar a dela, até que pegasse no sono. Quando aquela mão quentinha e macia da vovó apertava a dela, toda sensação de temor, solidão e insegurança deixava de existir.

Ela era uma jovem mulher, confiante e auto-suficiente – isto é, na aparência. Mas se sentia muito só. Então, um jovem entrou na sua vida. Eles se casaram e começaram a vida juntos, e mais uma vez a mão dela se estendia para outra em busca de segurança ao longo da noite. Quando a mão dele, forte e batalhadora, cingia a dela, toda sensação de temor, solidão e insegurança deixava de existir.

Então, chegou o tempo em que ela se viu sozinha outra vez. Não era mais confiante, não era mais auto-suficiente. Ela estendeu a mão trêmula, mas não havia ninguém ali para segurá-la. O vazio lhe enchia a alma. Ela cruzou as mãos, porém não sentiu conforto.

Na quietude de uma noite sem sono, uma vez mais estendeu o braço e chorou diante de Deus. De repente, uma sensação agradável cobriu sua mão estendida, como se uma forte mão estivesse ali, segurando a sua. Estaria sonhando que era novamente a garotinha e que a mão da vovó ali estava para confortá-la? Estaria o forte jovem envolvendo a mão dela com amor e segurança? Não, essa mão segurava a dela com força incomum. Uma sensação estranha de paz se espalhou pelo seu corpo. E agora ela sabia que não precisava nunca mais temer a solidão ou a insegurança, pois havia aquela mão com cicatriz de cravos segurando a sua.

Bárbara Smith Morris

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